Para celebrar o amor




o berreiro! Todos vêm ao mundo chorando e com ela não foi diferente! Enquanto minha mãe chorava por nascer, meu pai fazia coisas típicas de um adolescente. Enquanto ela engatinhava e aprendia a falar, ele fazia coisas de um jovem de 17. Enquanto ela ia à escola, ele comemorava seu aniversário de 25 anos. Ele bem que podia ter segurado minha mãe no colo. E quem disse que não segurou? Segurou com certeza, no ritual de entrada no quarto depois do casamento dos dois. Até chegar essa hora, entretanto, muita coisa aconteceu.
Vou contar a história que sei. Diz a lenda, em nossa casa, que meus pais se conheceram na igreja. Ele frequentava a mesma igreja a que vamos até hoje. Num belo dia, eis que entra no culto uma morena/branca (ela é um meio termos entre essas duas tonalidades) linda de viver, com seu corte de cabelo tipo ABBA. Minha mãe era recém-chegada a Uberlândia, queria muito encontrar uma igreja para frequentar. Encontrou a igreja, mas meu pai... bem, meu pai não a notou de primeira. Ela continuou indo à igreja, bem “diva” mesmo. Com o passar do tempo, tanto meu pai, quanto minha mãe foram percebendo um ao outro. E foi construída uma ponte de amor e carinho sobre os 15 anos de distância do casal. Ele com 35. Ela com 20. Começaram a namorar. Entre cartinhas de paixão daqui, promessas de amor dali, decidiram se casar um ano depois.
Sobre o casamento, vou contar além da história que sei. Vou contar a história que vejo no álbum de fotografias da cerimônia, que, por sinal, já não tem mais aquela capa “Ah, se todo branco fosse assim”. Se a capa já não está muito branca, as fotos, pelo contrário, estão extremamente nítidas. Dá até pra perceber detalhes do grande dia! Minha mãe, trajada em um lindo vestido branco, aparece já de cara, em frente a um pé de samambaia. A samambaia acompanha minha mãe nas próximas sete fotos do álbum. É uma bela samambaia, atrás de uma belíssima noiva. O vestido era (ou ainda é, não sei da existência dele) todo trabalhado na transparência no pescoço e braços. E olha que esse vestido tem história! Vendo o álbum de uma amiga, que minha mãe conheceu muitos anos depois do casamento, mamãe foi perceber, quem diria, que era o mesmo vestido. O fato só ocorreu graças aos amigos em comum entre elas, que emprestaram para uma, emprestaram para outra, e ambas se embelezaram com ele no grande dia. O buquê era feito de rosas e margaridas brancas, envolvidos por um belo laço de fita. O cabelo com resquícios do ABBA foi devidamente montado com um arranjo. A maquiagem linda, leve e fixa, não solta.
Daminha a postos, confere! Tia pra levar o noivo ao altar, confere! Padrasto para levar a noiva ao noivo, também confere! O noivo entra, feliz da vida. Logo depois, é a vez dos padrinhos com roupas acinturadas acima do estômago. A noiva entra, glamourosa em seguida, acompanhada de sua daminha. O pastor começa a cerimônia. O quarteto da igreja canta. E um cidadão que, ou estava gravando o casório, ou não queria perder o direito de ouvir o futebolzinho do fim de semana, aparece sentado com um bruto de um rádio no casamento. O pastor passa seu recado. Todos prestando atenção ao enlace, testemunham os noivos assinando os papéis do casamento civil, em pleno casamento religioso. Minha mãe, extremamente noiva (afinal de contas, era o dia dela), se dá ao direito de chegar BEM perto do papel para assiná-lo, ou por problema de vista, ou por emoção, ainda estou na dúvida. Papéis assinados, chegou a hora de orar e agradecer a Deus por aquele momento. Agradecimento feito, eis o momento da troca de alianças. Dedos esquerdos completos com os anéis. Corações completos com o amor. Cerimônia linda, devidamente realizada! E o pós-cerimônia? Bom, da parte que eu posso contar, meu pai e minha mãe tocam direto pra Araxá, para curtirem a lua de mel. Meu pai, com 36 anos, carrega minha mãe, com 21, no colo.
Eis agora a matemática do casamento do meu pai e da minha mãe. Adicionam-se 26 anos depois da cerimônia. Subtraem-se duas alianças perdidas e ainda não repostas. Retiram-se 25% de cor branca na capa do álbum do casal. Somam-se duas filhas e cinco quilinhos (talvez um pouco mais) na mamãe. Erradica-se corte de cabelo estilo ABBA. Reduzem-se alguns fios de cabelo no papai. Uma filha casada, outra disponível para amar. O amor, a cumplicidade, o respeito e a paciência, duplicados, triplicados, quadriplicados. Eis aí então, da história que sei, o que sei da história de casamento e de amor entre minha mãe e meu pai.
Confira agora a confirmação dos fatos:
Adora conversar e acha que a vida é o palco ideal para rir e fazer graça. Ainda não encontrou o “esse cara sou eu”, mas quando encontrar e decidir se casar, vai ser uma noiva super detalhista. Sonha com um casamento que tenha a presença de um noivo engraçado, inteligente e lindo aos olhos dela.
Minha história: O casamento dos meus pais
Quando minha mãe nasceu, meu pai tinha 15 anos. Papai já corria na rua. Jogava bola (dizem as boas línguas que era um excelente jogador e eu não duvido). Era paquerado pelas meninas da cidade, enquanto paquerava a bola. Trabalhava, trabalhava e trabalhava muito, afinal, naquela época, o serviço era na roça. Era um serviço prazerosamente cansativo, diz ele. Enquanto meu pai já fazia tudo isso, eis que no hospital minha mãe abria
Valquíria Amaral


Mamãe e a samambaia: um caso de amor. (Foto: Arquivo pessoal)

Pronta pra botar pra quebrar, ops, casar!(Foto: Arquivo pessoal)

Sem perder nenhum lance, do casamento ou do futebol? Eis a questão! (Foto: Arquivo pessoal)

Felizões no pós-casório. (Foto: Arquivo pessoal)